A vida de Cícero Ramalho da Rocha tem alguns capítulos especiais. Mas somente um deles já vale por um livro. No dia 20 de abril de 2005, aos 40 anos de idade, o folclórico atacante, até então visto apenas como um peso pesado de 92kg, fez o primeiro gol da vitória do Baraúnas-RN por 3 a 0 sobre o Vasco, em São Januário, pelas oitavas-de-final da Copa do Brasil.
Foi o momento mais feliz da minha vida. Era a minha primeira oportunidade de verdade em uma competição nacional e fiz o que fiz, mesmo aos 40 anos – contou.
O resultado chamou a atenção do país. A eliminação teve péssimas consequências também para o técnico Joel Santana, demitido após a vexaminosa derrota. Quase quatro anos depois, o ex-jogador tenta a sorte como treinador do Quixadá, lanterna do Campeonato Cearense.
Peguei o time em andamento com cinco derrotas. Ganhamos a primeira, perdemos a segunda, e agora temos mais um desafio pela frente. Joguei no Quixadá em 1987 e 1988, sendo artilheiro nos dois anos consecutivos. A pressão como técnico é grande, mas não dá para entrar em campo e fazer o gol como antigamente.
O jeito semelhante e a boa fase logo lhe renderam o apelido de Romário do Nordeste. Segundo cálculos do próprio jogador, Cícero Ramalho tem 106 gols no Campeonato Potiguar, mas a Federação não reconhece os nove gols feitos pelo Corinthians-RN, de Caicó – é o terceiro maior artilheiro da história da competição.
Quando o assunto é o Potiguar, clube onde começou, o ex-atacante vai mais longe: está no topo da artilharia do clube, com mais de 100 gols entre juvenis, campeonatos amadores e profissionais. Mas o coração é dividido.
Tenho um enorme carinho pelo Potiguar, onde comecei toda a minha história. Também sou ídolo no Baraúnas-RN, que me proporcionou a volta aos gramados após dois anos de inatividade, em 2005, além de ser o meu time de infância.
A história sobre o seu retorno ao futebol é curiosa. Em 2004, Cícero Ramalho recebeu convite do Baraúnas-RN para assumir a gerência de futebol. Todos em sua volta disseram para voltar a jogar, inclusive o presidente do clube. O ex-atacante então fez um pacto com o mandatário. Caso fosse campeão da Copa RN como dirigente, voltaria aos gramados. Dito e feito, mesmo com muitos quilos acima do ideal – chegou a pesar 103kg.
Cícero também fez sucesso longe do Nordeste, mais precisamente na Espanha, no início dos anos 90, onde atuou por cinco anos no Múrcia, Sabadel e Levante, com mais destaque para o último.
Em 2007, tive a oportunidade de voltar à Espanha. Fui muito bem recebido, mesmo 15 anos depois da minha saída. Tanto que os próprios torcedores foram me cumprimentar. O reconhecimento e a felicidade não escondem a difícil infância vivida a 12km de Mossoró-RN, no Rancho da Carça. O pai, agricultor, trabalhava na roça. Mas Cícero preferiu seguir outro rumo.
Logo quando fui crescendo vi que aquilo não era para mim. Preferia fazer as obrigações de casa a dar água às vacas. Comecei a me destacar no futebol dos domingos ao lado dos mais velhos e aos 17 anos convenci o meu pai de fazer teste no Potiguar, time dele e dos meus dez irmãos. Mas mesmo fã do Baraúnas-RN, não o decepcionei e fui artilheiro logo no primeiro ano como profissional.
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