terça-feira, 5 de julho de 2011

Causos do Futebol - Profissão? Técnico de Futebol!

Da esquerda pra direita: Gentil, Paulo Borges, Parada, Araras, Roberto Pinto e Canhoto(FotoAbaixo).


Tudo começou numa bela tarde de… 1896, quando alguém, durante uma partida rispidamente disputada, ficou revoltado com um jogador que fez nada menos do que 6 gols sem nem mesmo correr atrás da bola.

O cara ficava ali, perto do “goalkeeper”, só esperando a bola sobrar e, com um toque, empurrar para dentro do gol vazio.

Naquela tempo valia, só que o belo futebol estava se transformando em quem tinha o melhor “chupa sangue”.

O homem revoltado se reuniu com seus colegas da FIFA – que foi fundada em 1863 – e explicou:

- Temos que criar uma lei que impeça esses caras que só ficam se aproveitando do esforço dos outros para fazer os gols.

Foi assim que criaram a primeira “lei do impedimento”, em que para a jogada valer tinha que ter 3 jogadores, além do goleiro, entre o que estava com a bola e a linha de fundo. Depois diminuíram para dois adversários e, em 1925, para apenas um, além do goleiro. Regra que existe até hoje.

Ficou mais difícil fazer gol, e começou a febre de importar técnicos.

No Brasil não existia técnico de futebol. Era uma confusão danada, todos correndo atrás da mesma bola.

Geralmente, quem organizava e mandava no time era o “capitão”, um cargo na época respeitadíssimo. O primeiro foi John Hamilton, um inglês, que veio dirigir o Paulistano em 1909. Foi ele que organizou o primeiro sistema tático no Brasil: 1 goleiro, 2 zagueiros, 3 médios e 5 atacantes. Tudo por causa da tal lei do impedimento.



Depois do inglês veio uma enxurrada de técnicos estrangeiros: Dori Krushner; o húngaro Bela Gutman, que muitos afirmam ter sido o verdadeiro responsável pela evolução do futebol brasileiro, tanto dentro das quatro linhas como fora delas; Mandi; o uruguaio Ondino Viera… E muitos outros, até chegar aos tempos do milongueiro Filpo Nunes, fundador da Academia do Palmeiras. Os aventureiros vingavam no futebol brasileiro.

Os brasileiros viram que o emprego era bom e começaram a surgir, geralmente ex-jogadores. Ademar Pimenta foi o primeiro técnico realmente brasileiro, tanto que foi nomeado para dirigir a seleção a partir de 36. E, se você quer saber, já foi sendo xingado de burro pelos torcedores.

Já na Europa, depois de treinar no navio que transportou a seleção até a França, Pimenta insistia em barrar o Divino Mestre, Domingos da Guia, para testar Nariz e Jaú, de olho na Copa de 1938. Ele também criou a mania de despistar os adversários fazendo os jogadores treinarem fora de suas verdadeiras posições. Goleiro na ponta-esquerda etc. Tudo para que não descobrissem a tática do time; além de embarcar os jogadores em caminhões de verduras para que ninguém soubesse onde a seleção iria treinar.

O folclore em torno dos treinadores começou a partir daí.

Flávio Costa foi o todo poderoso até perder a Copa de 50, para o Uruguai, dentro do Maracanã. Dizem que ele até batia em jogadores e que uma de suas vítimas era Ipojucã, que acabou saindo do Rio e vindo para a Portuguesa para fugir do treinador.



Aí vieram os irmãos Moreira, Aimoré e Zezé; Osvaldo Brandão; Pirilo; Feola; Lula; Martim Francisco – inventor do 4-2-4; e com eles o fantástico Gentil Cardoso, criador do “deu zebra”.

Gentil era um negro baixinho, gordinho, poliglota, genial, criador de frases famosas como essa do “deu zebra” – porque a zebra não existe no jogo do bicho, e o seu “pequeno” Bangu tinha derrotado o poderoso Vasco da Gama. Ou “me dêm o Ademir Menezes e faço o Fluminense campeão”! Deram Ademir Menezes e o Fluminense foi campeão carioca de 1946. Gentil, como prêmio, foi demitido antes mesmo de entrar no vestiário. Naquela época, negro não era bem visto no tricolor das Laranjeiras!

Outra frase maravilhosa ele criou quando chegou perto de um jogador novato que insistia em chutar a bola para o alto, e, com seu famoso megafone em riste, gritou:
“Meu filho, a bola é feita de que?

De couro!

O couro vem de onde?

Da vaca!

A vaca gosta do que?

Da grama!

Então, meu filho, faz a bola correr pela grama”!

Certa vez, participava de uma animada roda de baralho com os jogadores, quando um diretor entrou pela sala. Rapidamente Gentil rasgou as cartas que tinha na mão e deu a bronca:

- Eu já disse mil vezes que não quero jogo aqui!

Quando o diretor se retirou impressionado, os jogadores partiram para cima de Gentil. que imediatamente tirou um baralho novinho do bolso e o jogo continuou.

Uma outra vez, foi contratado pelo Santa Cruz a peso de ouro, e Gentil pesava muito. Empolgado com a dinheirama, Gentil bateu no ombro do presidente e disse:

- Se eu não der o título ao Santa Cruz, rasgo o meu diploma!

O presidente tirou o imenso charuto da boca, deu um sorriso e afirmou:

- Se por esse dinheiro todo o senhor não der o título ao Santa Cruz, pode ter certeza que quem vai rasgar seu diploma sou eu!

Mesmo vivendo o futebol como ele tem que ser vivido, Gentil era um profundo conhecedor de como motivar jogadores e armar times que surpreendiam os adversários. Foi ele quem começou a época áurea do Bangu formando um time com Paulo Borges, Cabralzinho, Parada, Bianchini, o goleiro Ubirajara, Mario Tito, Luís Alberto, Jaime, Ocimar e Fidelis, que foi vice-campeão em 65 e depois campeão carioca em 66 dirigido por Alfredo Gonzalez.

Autor: Michel Laurence

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