quinta-feira, 3 de julho de 2008

LIBERTADORES - Nos pênaltis, a LDU conquista a América


Uma Copa Libertadores digna dos melhores enredos do realismo mágico latino-americano. Diante de um estádio lotado pelos torcedores adversários, confiantes no título, o imprevisível já indicado na história: a LDU foi derrotada por 3 a 1 pelo Fluminense no tempo normal (vencera o confronto de ida por 4 a 2), empatou sem gols na prorrogação, mas superou o oponente nos pênaltis por 3 a 1 já na madrugada de quinta-feira, no Rio de Janeiro (RJ), e se sagrou a nova campeã da Libertadores.

Durante toda a competição, o imponderável e o mitológico, o irreal e o fantástico: o Boca Juniors-ARG que começa por baixo e chega forte no mata-mata; o bicho-papão América-MEX que elimina o Flamengo na casa do adversário quando ninguém acreditava; a equipe brasileira apontada como favorita, o São Paulo; vitórias épicas nos últimos segundos... Enfim, tanto brasileiros, quanto equatorianos, que iniciaram suas caminhadas longe dos refletores, superaram as barreiras em seu caminho.
PRIMEIRO TEMPO

O Fluminense precisava de, ao menos, dois gols - o que levaria a disputa para a prorrogação - e, como estava escrito, partiu para o ataque. Mas, como se um outro escritor tivesse roubado a história, o início da trama foi reescrito: em seu primeiro contra-ataque, aos cinco minutos, a LDU aproveitou falha da defesa rival, Guerrón passou por Ygor pela direita e cruzou rasteiro para Bolanõs, livre, abrir o placar.

O Tricolor das Laranjeiras, empurrado pelo aplauso de seus torcedores no estádio, fez valer uma de suas marcas ao longo desta Libertadores: a reação rápida. Se aos nove minutos, a estrela dos gols decisivos não brilha - Washington perde gol incrível na pequena área. Contudo, logo aos 11 min, Thiago Neves, o iluminado, fez jogada individual, livrou-se de seu marcador e chutou de longe, no canto esquerdo baixo do goleiro Cevallos.

A partida, que estava aberta, passou para o controle do time carioca. Nervosa, porém, a equipe não conseguia acertar no ataque diante de uma LDU preocupada em se defender. Aos 28 minutos, a defesa equatoriana erra: em cobrança de lateral rápida pela esquerda, enquanto os adversários param pedindo impedimento, Cícero avança e cruza rasteiro para Thiago Neves, na pequena área, apenas completar. E Washington ainda sofreu, três minutos depois, um pênalti não marcado pelo rodrigueano Sobrenatural de Almeida.
SEGUNDO TEMPO

Para a etapa final, os mandantes vieram com seu guerreiro renegado no lugar do volante Ygor. E ele, Dodô, mostrou seu cartão de visitas, no embalo da pressão do Fluminense - aos seis minutos, acertou a trave. A LDU, com o resultado a seu favor, tinha dois objetivos: manter-se atrás e segurar a partida. Contudo, com a crônica do gol anunciado foi cumprida como em uma trama épica.

O herói Thiago Neves, aos 12 minutos, de falta, tornou-se o primeiro jogador a marcar três gols em uma final de Libertadores. O panorama passou a ser de prorrogação, com um novo gol podendo mudar tudo - qualquer uma das equipes que fizesse mais um levaria a título. Aos 23, Bieler acerta a trave esquerda de Fernando Henrique em sua primeira subida ao ataque na segunda etapa.

O time comandado por Renato Gaúcho manteve-se no ataque, mas de maneira desordenada, enquanto o oponente mantinha-se todo em seu campo. Com o cansaço pesando com a passagem dos minutos, o drama foi levado um final ainda mais emotivo - a prorrogação.
PRORROGAÇÃO

O Fluminense iniciou 'nova' partida como as anteriores: buscando o gol. A LDU, por sua vez, parecia confiante em levar a melhor nos pênaltis: defendia-se. Mas, como deve ter qualquer boa história, esta também teve seu toque de ironia - a melhor chance foi dos equatorianos.
No segundo tempo, 11 minutos da prorrogação, após cruzamento longo pela direita do ataque, Bieler conclui para a rede, contudo a arbitragem anula o lance, equivocadamente. Na jogada seguinte, Washington colocou Thiago Neves na grande área. O meia bateu cruzado e Cevallos espalmou.

Os 30 minutos finais foram nervosos. Com os dois times cansados, nenhum dos lados da batalha conseguiu ser incisivo o suficiente para levar perigo à meta rival. No último minuto, Luiz Alberto foi expulso ao segurar Guerrón, que invadiria a área tricolor livre para marcar.
PÊNALTIS

Os jogadores em que o Fluminense mais depositou confiança não corresponderam no momento decisivo - Conca, Washington e o artilheiro da equipe das Laranjeiras na competição, com sete gols, e estrela do duelo, com três no tempo normal, perderam suas cobranças.
A LDU, mais competente, errou apenas uma vez, em quatro tentativas, e levanta a taça no Rio de Janeiro, na casa do oponente. O Equador está em festa.
O Maracanã recebeu pela primeira vez em sua história a final da Libertadores. Em seu marco fundador, a Copa do Mundo de 1950, o estádio lotado sofreu com a derrota brasileira, na final, para o Uruguai. E, 58 anos depois, novamente cheio, foi palco de uma nova tristeza brasileira, desta vez, de lágrimas tricolores.

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